O Clube de Fotografia Mamam 2016 é inspirado na exitosa experiência do MAM de São Paulo e outras instituições de renome. Foi no MAM que os idealizadores do Clube foram buscar o suporte técnico para desenvolver e implementar o projeto, conhecendo pessoalmente seus gestores. Seguindo o modelo do clube paulista, que já tem 10 anos de experiência, o curador Marcelo Rezende e a coordenadora do Clube, Beth da Matta, vão trazer para o Recife obras de artistas nacionais que trabalhem em vários segmentos da fotografia, seja documentais ou experimentais.
Seguimos orientações valiosas destas instituições na primeira edição inédita de clube em 2010. Após esse hiato de tempo e algumas avaliações, buscamos apresentar um modelo independente de orçamento da gestão pública, e com essa estratégia criar real possibilidade de continuidade – garantindo aperfeiçoamento desse modelo, como também ocorreu em São Paulo.
A proposta do Clube de Fotografia Mamam é dar ao colecionador a oportunidade de conhecer e possuir obras de autores conhecidos e talentos promissores. Nomes consolidados da fotografia brasileira dialogarão com fotógrafos mais jovens que vislumbram em seus trabalhos investigações contundentes, traçando desse modo linhas autorais distintas, porém de extrema relevância artística.
Em 2016, o Clube de Colecionadores de Fotografia Mamam disponibiliza 60 clubes das seguintes obras:
Alberto Bitar
A fotografia contemporânea produzida no Pará é referência no Brasil e no exterior. Esta fotografia de Belém apresenta como características uma diversidade de estilos e linguagens que é única no panorama nacional. O fotógrafo Alberto Bitar é egresso dessa cena e um dos que contribuem para este reconhecimento.
Imaginar coisas através da fotografia, é o que faz.
Ao fotografar, Bitar presta atenção em coisas que não lhe chamaria a atenção com o olho nu. A descoberta é feita através do obturador da máquina fotográfica. Tem a preocupação de não perder a memória das coisas, por isso fotografa.
Para o clube da Fotografia do MAMAM, o artista nos cedeu uma foto da série Corte Seco, apresentada na 30ª Bienal Internacional de São Paulo, em 2012. Uma imagem noturna com luz caravaggiana, bem definida entre a luz e as sombras, que poderia estar ilustrando uma coluna policial do jornal EXTRA.
O colorido é intenso ao retratar a violência urbana que assola as grandes cidades brasileiras. A vida parece ter se tornado mercadoria barata e fácil de ser interrompida. A imagem captada com longa exposição, criando fantasmas com os borrões, fala de alguma maneira da desumanização perturbadora diante dessas vítimas que são observadas por figuras que não mais se espantam com a cena dramática de um corpo coberto e estendido na lama.
Alberto Bitar nasceu em 1970, vive e trabalha em Belém (PA). Formado em Administração pela UNAMA (Belém). Iniciou sua trajetória como fotógrafo em 1991, participando de exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, dentre as quais a 30ª Bienal de Arte de São Paulo de 2012; o 32º Panorama da Arte Brasileira, do Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2011; o Rumos Artes Visuais, do Instituto Itaú Cultural de 2008/2009); Densidentidad, IVAM, Valência, em 2006; Une certaine Amazonie, Salon du Livre et de la Presse Jeunesse, Paris, em 2005; e Brasiliana – Fotógrafos da Fotoativa, no Porto, em 2000. Ganhou, em duas ocasiões, o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, em 2012 e em 2010; e, em sete vezes, o Salão Arte Pará, de Belém, de 1997 a 2011. Possui obras em diversos acervos, como na Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador], na Coleção Pirelli/MASP de Fotografia, no MAC/USP e no MAM/SP, na Coleção FNAC Brasil, no MACRS e no MARGS [Porto Alegre].
Jonathas de Andrade
Estudou direito e não virou advogado. Foi estudar comunicação social e terminou o curso, mas ai houve uma outra mudança de percurso. O artista já vinha trabalhando com a fotografia e encontrou um outro lugar, o da arte. Tinha o desejo de buscar uma existência mais completa tirando fotos. Desse interesse tornou-se um pesquisador. É também antropólogo. Juntou o artista pesquisador e o antropólogo e virou ao mesmo tempo, também, etnógrafo. Para Jonathas interessa como as pessoas solucionam de maneira simples e inteligente a sua forma de viver diante das adversidades do mundo. A invenção na vida cotidiana.
Utópico, ainda pensa a arte como forma de mudar o mundo ao fazer coisas para transformar coisas. A sua busca é descobrir o seu papel nesse mundo. Nas construções coletivas lhe interessa a sociedade e suas formas de sobrevivência. São temas do quotidiano com viés político. As coisas vem com o sentimento e responde de vários jeitos as questões que lhe afetam. É a sua busca na fotografia.
A característica dos seus trabalha é a diversidade de suportes como fotografia, as instalações, os vídeos e as fotos pesquisas.
Jonathas de Andrade nasceu em Maceió, em 1982. Vive e trabalha em Recife. A sua carreira nacional e internacional ganhou reconhecimento e o levou a participar de importantes mostras coletivas no Brasil e no exterior como a 12 Bienal de Lyon, 2nd New Museum Triennial, 12ª Bienal de Istambul, 7ª Bienal de Sharjah, 32º Panorama da Arte Brasileira, 29ª Bienal Internacional de São Paulo, em 2010, 7ª Bienal do Mercosul, em 2009, Mithologies – Cite des Arts Paris, Galeria Vermelho (São Paulo), The Right to the City – Stedelijk Museum Bureau Amsterdam, Better Homes – SculptureCenter – Long Island City – USA, Tropikalizmy – Gdańsk City Gallery – Gdańsk – Poland, When Attitudes Became Form Become Attitudes – CCA Wattis Institute for Contemporary Art – San Francisco, The Insides are on the Outside, Casa de Vidro e SESC Pompéia – São Paulo, Cruzamentos – Wexner Center for the Arts – Columbus, EUA. Com mostras individuais já se apresentou no Instituto Itaú Cultural e na Galeria Vermelho (São Paulo); no Furnas Cultural (Rio de Janeiro); no Instituto Cultural Banco Real, na Fundação Joaquim Nabuco (Recife), Musée d’art Contemporain de Montréal, Galeria Continua (San Gimignano), apresentou a mostra Museu do Homem do Nordeste, na Kunsthalle Lissabon, em junho de 2013 e em 2015 apresentou-se no Museu de Arte do Rio. Também ganhou os prêmios Future Generation Art Prize e o Prêmio Marcantonio Vilaça.
Priscilla Buhr
“Corpos habitam as fotografias”, é assim que Georgia Quintas inicia o texto sobre um ensaio de Priscilla Buhr.
A imagem escolhida para compor o Clube da Fotografia do MAMAM 2016, é da série “Ausländer”, que em alemão quer dizer estrangeiro. O corpo que habita estas imagens é o da memória em suas várias formas adquiridas quando lembramos de algo, de alguém.
A fotografia de uma árvore é o corpo visto na imagem registrada através de um vidro embaçado em que escorre gotas de água da chuva. O resultado é uma imagem desfocada que parece chorar a nostalgia do lugar que é desconhecido. É a procura pela identidade e pela memória que habita em todos nós. Priscilla busca com estas imagens os fragmentos da memória familiar, quase inexistentes para famílias que tiveram que deslocar-se pelo mundo durantes as guerras.
“O ensaio retrata o paradoxo dos sentimentos despertados durante a procura por uma identificação pessoal em uma terra desconhecida, distante e, ao mesmo tempo, impregnada de memórias e raízes. Uma história sobre busca, sobre um reencontro imaginário entre neta e avô” escreve Priscilla sobre este ensaio.
“… O ensaio “Ausländer” começou a ser produzido em junho de 2011, durante uma viagem de 20 dias que fiz pela Alemanha, na tentativa de um encontro com todo o significado da palavra ascendência”. Encontrou ruas vazias, apenas o silêncio quase absoluto, que a conduziu ao encontro da casa em que seu avô nascera. Um encontro de poucas palavras… Ali não mais existiam suas memórias e sim, as dele. Então, a casa deixou de ser o seu objeto de busca e partiu para uma construção das suas próprias memórias, memórias imaginadas sobre lembranças efêmeras de uma relação entre neta, avô, de laços e de ausências.
Priscilla Buhr, nascida em Recife (PE), em 1985, é fotógrafa formada em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco. Iniciou sua carreira profissional em 2007, estagiando no Jornal do Commercio. Em 2008 foi vencedora da mostra competitiva nacional do 21º Set Universitário (PUCRS / Famecos) na categoria Jornalismo / Fotografia. Em 2009 passou a integrar a galeria Perspectiva, do blog Olhavê (eleito melhor Blog/Site do “O Melhor da Fotografia, Brasil 08/09”). Foi uma das vencedoras do Fotograma Livre 2010 (mostra que integra a programação do Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre – FestFotoPoA), sendo convidada a participar do programa Fotografia Brasileira Contemporânea da edição 2011. Em dezembro de 2010, realizou sua primeira exposição individual com o trabalho AutoDesconstrução, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães do Recife. O mesmo trabalho, foi exposto na galeria Eulengasse, em Frankfurt, Alemanha. No mesmo ano, ainda teve trabalhos publicados nos livros Melhor do Fotojornalismo Brasileiro 2011, Linguagens e na edição especial da Revista Continente para a edição 2011 da Fliporto. Foi selecionada para a mostra Portfólio em Foco, da edição de 2012 do Paraty em Foco – Festival Internacional de Fotografia. Em novembro de 2012, participou da exposição fotográfica Pernambuco Convida Pará, com curadoria de Simonetta Persichetti na Arte Plural Galeria, em Recife. Em janeiro de 2013 foi uma das vencedoras do 6º Concurso de Fotografia Pernambuco Nação Cultural e selecionada para projeção fotográfica do V THEORIA, realizado na Fundaj-PE. Foi a ganhadora do Prêmio Brasil de Fotografia na categoria Revelação com o ensaio Ausländer. Atualmente integra o coletivo 7Fotografia que desenvolve atividades de produção, pesquisa e debate na área de fotografia.
Gordana Manic
A artista Gordana Manic chegou ao Brasil deixando para a trás o caos social e a imprevisibilidade de futuro no seu país de origem, a Sérvia, assolada pelas guerras das Balcãs dos anos 1990. Veio para fazer um mestrado, fez o doutorado e não voltou mais a viver no seu país. Dá aula de matemática em universidade pública, em São Paulo.
Os conflitos que vivenciou, o medo das bombas e balas trocadas entre as forças das antiga Iugoslávia e as da OTAN, reverberam no seu trabalho. Um olhar denso para o seu universo íntimo. Suas fotos são autorreferentes.
Gordana Manic começou a fotografar cedo, desde os 17 anos de idade. Curiosa, viu o material e as anotações sobre fotografia do irmão. Esta curiosidade despertou a paixão da artista pela imagem. Trabalhou com maquinas analógicas, e como o material era caro, tomava bastante cuidado para tirar suas fotografias. Fazia com que procurasse o melhor enquadramento, o momento certo para fotografar. Fazia uma construção da imagem a ser registrada antes de bater a foto.
A composição e a luz são uma preocupação para buscar a densidade da fotografia em preto e branco. As suas fotos falam da falta de futuro. O ambiente retratado no ensaio nos passa esta densidade psicológica da artista.
Fotografa colorido e depois no photoshop tenta transformar a imagem em preto e branco, buscando maior intensidade para dar mais força a imagem. A cor não é importante para o seu trabalho. Suas imagens falam de um não lugar. De deslocamento. Não sabe de onde vem. Quando saiu do seu pais, era a Tchecoslováquia, hoje é a Servia. No Brasil onde chegou em 1999, passados tantos anos, ainda não se sente completa. Quando retorna ao seu pais tem o desejo de transformar suas impressões e sentimentos em fotos.
A fotografia lhe permite explorar esta memoria. Há ausência de pessoas, de amigos, de familiares em suas fotos, resgata suas origens em álbuns de família. Transforma suas emoções em imagens que vem do inconsciente. A fotografia para a artista é a escrita com a luz.
Gordana Manic (Novi Sad, Sérvia – 1973) é doutora em Matemática pela USP-SP (2006) e tem pós-doutorado em Ciências da Computação pela Unicamp (2008). Matemática e fotógrafa, chegou ao Brasil em 1999 fugindo da imprevisibilidade do seu futuro, em virtude dos conflitos no seu país. Durante este ano morou breves períodos em Salvador, Ouro Preto e Rio de Janeiro. A partir de dezembro de 1999, fixa-se em São Paulo.
Participou de diversos cursos sobre fotografia, entre eles o curso com Marcelo Greco no MAMSP, no qual foram apresentadas à fotógrafa muitas referências até então desconhecidas. Cursou também o workshop com Luis Gonzalez Palma no Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo e o workshop com Stephen Shore no SP Photo Fest. Destacam-se as exposições individuais Réquiem, selecionada pela Convocatória “Nova Fotografia 2012” no Museu da Imagem e do Som (MIS), São Paulo, SP, Brasil e Distante Presente, com curadoria de Mario Gioia na Galeria ÍMPAR, em 2012, em São Paulo. Teve participação nas exposições coletivas Uma coisa são duas, com curadoria de Eder Chiodetto na Galeria ÍMPAR, em 2011, São Paulo, SP, Brasil; Arte Pará Ano 30, na Fundação Romulo Maiorana, em 2011, em Belém, Pará; 11º Salão Nacional de Artes Visuais de Guarulhos no Centro Municipal de Educação Adamastor, em 2011, Guarulhos e VII Salão de Artes Plásticas de Suzano, no Centro Cultural Francisco Carlos Moriconi, em 2011, São Paulo. Participou da I FotoBienalMASP, em 2012, no Museu de Arte de São Paulo e no Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba, em 2013. A artista foi premiada no Arte Pará Ano 30 e VII Salão de Artes Plásticas de Suzano, ambos com o prêmio aquisição.
João Castilho
A busca é o sonho de um novo lugar onde se possa exercer com dignidade a condição humana. As fotos estranhas de João Castilho traduzem este sonho com beleza.
Artistas como Castilho, estão em evolução incansável em suas pesquisas conceituais e estéticas. Transita no retrato de pessoas, de animais, de paisagens e vai para o vídeo, criando imagens fortes, impactantes. Para o fotógrafo não há apenas uma forma de fotografar, considerando-se o obturador de uma máquina analógica ou digital, que nada mais é do que uma janela por onde se observa o mundo. Em situações encontradas ou provocadas sempre pensadas em relação ao corpo retratado e o corpo que as fotografa.
Pode ser uma situação espontânea, ensaiada, medida, recortada, modificada e transformada hoje pelos recursos tecnológicos que se usa para gerar uma imagem.
João Castilho cria imagens estranhas como esta da série Zoo, em que retrata um tamanduá sobre uma cama.
O conjunto de imagens são de animais selvagens e silvestres que são deslocados para ambientes domésticos. A foto é simples no seu registro e enquadramento, o fotógrafo conta com a espontaneidade do bicho que está sendo retratado. Mas há uma tensão entre eles, a do observador, a do observado, o bicho e o fotógrafo que ficam na espreita. Ambos prontos para a fuga. O que os liga é o obturador da máquina pronto para ser disparado.
O ensaio foi um dos projetos contemplados na primeira edição do Bolsa de Fotografia Zum / IMS, de 2013.
João Castilho nasceu em 1978 em Belo Horizonte, onde vive e trabalha. É formado em jornalismo pela PUC-MG. Tem mestrado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Fez pós-graduação em artes plásticas e contemporaneidade pela Escola Guignard.
Já realizou exposições individuais em diversos espaços, como a Fundação Joaquim Nabuco, Galeria Olido, Espaço Oi Futuro, Museu de Arte da Pampulha, Celma Albuquerque Galeria de Arte, além de participações em mostras coletivas. Em 2008, publicou o livro Paisagem Submersa, pela Cosac Naify, junto com Pedro Motta e Pedro David. Tem obras no acervo do Museu da Pampulha, no MAM da Bahia, no MAM de São Paulo e na Coleção Pirelli-Masp de Fotografia. Em 2011 realizou a exposição Hotel Tropical, na Zipper Galeria, em São Paulo e depois na Celma Albuquerque Galeria de Arte, de Belo Horizonte. Em 2012, apresentou a mostra Disruption, na 1500 Gallery, de Nova Iorque, EUA. Em 2013 participou da exposição Brasilskih Fotografov, no PhotoOn – Centre for Contemporary Photography, em Liubliana, na Eslovênia. No mesmo ano, participou da I Bienal de Fotografia do MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo, Brasil. Da mostra FUTURO – Salão Nacional de Artes Visuais de Jundiaí – Arte contemporânea e novas tecnologias, na Pinacoteca Municipal de Jundiaí Diógenes Duarte Paes, em Jundiaí e da Convite à Viagem – Rumos Artes Visuais 2011/2013. Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil. Em 2014, fez parte da mostra Prélio, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Em 2008 ganhou o Prêmio Wessel de Fotografia.
Para mais informações, escreva para clubefotografiamamam@gmail.com